Brasil que não mostra sua cara

O Brasil é a terra do contrário. O que funciona aqui não necessariamente funciona no resto do mundo e vice-versa. Não, não estou falando do mundo invertido de Stranger Things e nem de contradições. Estou falando de uma ética de ponta cabeça mesmo. De um lugar que resolveu que nem a história e nem a experiência ensinam. Onde nem o passado está garantido.

Não gosto de generalizar, mas temos que reconhecer que existe uma tendência do brasileiro de só obedecer a lei de Gérson e isso se manifesta de várias formas.

É comum o devedor, no Brasil, não apenas não pagar, como ficar bravo com a cobrança do credor, e não interessa se a cobrança é mais do que devida.

Quando alguém comete uma infração de trânsito, aqui não acatamos a punição: ficamos P da vida com o acusador ou com a autoridade.

O bandido aqui não se preocupa com as consequências de seus crimes, mas o cidadão de bem tem que se preocupar com o que acontece com o bandido.

Ter dinheiro e/ou sucesso não é motivo de admiração, mas de inveja e crítica.

Político bom não é honesto, é aquele que lacra na argumentação e é aplaudido ainda que seja ladrão.

Quando alguém faz alguma coisa de errado numa empresa, critica quem descobriu o erro em vez de se retratar.

Quando algum escândalo político aparece, o brasileiro não assume seu papel de cidadão e cobra mudanças, apenas faz piada nas redes sociais.

Poderia fazer uma lista de motivos que me levam a considerar o Brasil como a terra do contrário. Comportamentos esses que frequentemente viram memes. Mas estou cansado de esperar que isso um dia vá mudar. A verdade é que, enquanto o brasileiro acreditar que a ética é individual, que princípios só servem para falar bonito e que o problema são os outros, não vamos evoluir como país.

Quem tem consciência dessa situação não pode dar uma de isentão, de apolítico, porque o problema do Brasil não está na esquerda, na direita ou no centro: está no meio. No meio político, no meio empresarial, no meio acadêmico, no meio social, no meio religioso etc.

Enquanto ficarmos de braços cruzados, o Brasil não será o país do futuro. Será um país sem futuro. E não adianta acreditar que Deus é brasileiro, porque se era, já pediu cidadania de outro pais.

Isso me faz pessimista? Não, mas otimismo não vai resolver o problema. A consciência precisa ser individual até que se torne coletiva, até que o país deixe de ser um aglomerado de gente tentando se dar bem e vire uma nação.

Se a Seleção é a pátria de chuteiras, há muito estamos descalços. Bora mudar isso aqui?