Nada substitui o lucro?

Algumas verdades e obviedades precisam ser discutidas

7/15/20252 min ler

"Nada substitui o lucro" - essa frase normalmente atribuída ao falecido Comandante Rolim, fundador da TAM por estar entre seus 7 mandamentos, na minha opinião, é na verdade um sofisma. Sim, o Lucro é tangível e mensurável e essencial, mas é míope: nos permite enxergar no curto prazo mas não no longo prazo. O maior exemplo disso é o que está acontecendo com as empresas americanas, como estamos vendo no momento após o início da guerra das tarifas.
O que acontece é que, quando o lucro é soberano, as empresas fazem de tudo para obtê-lo e o mercado acaba premiando quem é mais eficiente nessa tarefa. E esquecem os meios utilizados para se obter esse resultado.
E o que isso interessa a você ou a mim? Está nas mãos dos executivos e líderes ajustar o foco do mercado. O mercado americano, há muitos anos, tem-se focado na alavancagem das empresas com base na lucratividade, na perspectiva tecnológica e no barulho que elas geram no mercado. Esses fatores levam as empresas a buscar muito mais a imagem do que o conteúdo, o que, a médio e longo prazo, é insustentável.
Esse processo de inflar o valor das ações das empresas muito além do que elas geram efetivamente de riqueza é uma prática especulativa, que tem levado a quedas como do mercado de subprime de 2008. O objetivo número um de uma empresa não deve ser o lucro, mas gerar valor para seus clientes. Esse valor é obtido por meio de produtos e serviços que melhorem a qualidade de vida. Obviamente isso tem que ser feito de forma sustentável, para que possa ser feito pelo maior tempo possível. Uma das coisas que gera a sustentabilidade é exatamente o lucro, mas desde que ele não seja obtido de forma insustentável. Ou seja, é um ciclo.
Parece óbvio, mas a histórica de economia americana mostra que isso está muito longe de ser prática corrente. A guerra de tarifas tem origem num modelo econômico americano que se tornou insustentável ao criar dívida para pagar despesas, emitindo bônus e vendendo no exterior. Os EUA reduziram sua produtividade interna, reduziram a base arrecadatória das empresas, não impediram o crescimento irreal de empresas como a Tesla e passaram a emitir dinheiro e bônus do tesouro como faz qualquer pessoa quando empunha seu cartão de crédito sem fazer conta de quanto podem gastar. A diferença é que governos têm meios de evitar a quebra que as pessoas não possuem. E podem fazer isso por muito mais tempo e em escalas muito maiores. Mas, no fundo, é a mesma coisa.
Os fins não justificam os meios; são os meios é que justificam os fins.