O que não te contam sobre IA

Abra seu Instagram, clique em qualquer anúncio de IA e, pronto: sua vida vai mudar.

Sério! Você logo vai descobrir que todo mundo sabe tudo sobre IA e, além de compartilhar por puro amor ao conhecimento, vai revolucionar seus negócios com uma ferramenta que até advinha o tempo em São Paulo.

Mentira? Sim e não. Como tenho dito, a IA é totalmente disruptiva. Até o momento, ela apenas apresentou algumas armas que dispõe. Mas o negócio é muito mais profundo. Vou dar um exemplo: você tem um ótimo e-commerce? Parabéns. Esse e-commerce vende por meio de IA? Não sabe dizer? Eu explico: as pessoas criam ou passam a usar agentes de IA e esses agentes fazem as tarefas por elas. Vamos supor que seu e-commerce seja de eletroeletrônicos. E você está bem posicionado no Google, mas não conversa com nenhuma IA. Quando alguém usar um agente para pesquisar algo que você vende, seu produto vai aparecer? Não estamos falando da busca do Google e de todo o ecossistema construído por ele. Estamos falando de um mundo que passa por 4, 5 ou 6 motores de IA.

Vou mais a fundo: todo navegador de Internet (em português tem esse nome poético, mas em inglês chama-se browser - buscador) é um agente criado pela Netscape, que depois perdeu o posto para o Microsoft, que depois perdeu o posto para o Google e Firefox (exceto para quem usa Mac), é um agente que usa algoritmos complexos que fazem o que você pede a ele: quem ganhou a copa de 1954, onde encontro galinha d'angola para comprar, quem joga hoje, qual o preço da passagem para Nova Iorque etc. Ele é um assistente pessoal que, ao longo dos anos, tem tentado ser cada vez mais pessoal, sabendo mais sobre você. Tudo porque o Google, no início do século XXI, criou um algoritmo de busca que usava os navegadores existentes e trazia o que você havia pedido com grande porcentagem de acerto.

Pois navegadores são coisas do passado e esse é o jogo. Porque navegadores concentram a maior parte do tráfego de Internet e facilitam ou não o público chegar até sua loja. Existem muitos padrões, mas os diferentes navegadores são muito parecidos e o que você precisa para ter um bom desempenho na busca orgânica é padrão.

Se acabam os buscadores, acabam as buscas, certo? Mais ou menos. Se você pode ter um buscador customizado para os jogos do seu time, um outro customizado para os destinos que você viaja, outro para esportes que você gosta e outro para sua música preferida, você vai começar a acessar aplicativos de IA que não passam por navegadores, ou que passam sem você perceber.

Vou fazer uma comparação. A maior façanha do Netscape Navigator foi trazer para os computadores pessoais da época uma forma de navegar com facilidade. Antes dele, você precisa saber como acessar seu serviço preferido: não existia um mapa cartográfico da Internet. Esse mapa foi desenhado pelo Navigator, foi aperfeiçoado pelos navegadores seguintes e foi catalogado pelo Google, como se fosse um guia do que acessar. O sistema de avaliação dos sites pelo Google ainda é o melhor sistema de hierarquização de resultados de busca. Imagine você procurar por preço Coca-Cola e o navegador trazer os sites dos EUA antes do Brasil. Pois é isso que não percebemos, mas que traz uma certa previsibilidade à nossa navegação num mundo de Bilhões de sites.

Agora, imagine que o território mudou: não se trata mais de algoritmo e nem de indexação por geolocalização e contexto, mas a partir de um perfil sofisticado de parâmetros que são aprendidos todos os dias. Não apenas a hierarquia da busca muda, mas os player mostrados, também. Ou seja, é um novo território, pavimentado mas sem sinalização. Pior: onde dá pra andar, correr e até voar. Qual caminho você vai escolher? Qual veículo? Quem será seu co-piloto?

O que eu quero dizer é: nessa nova realidade, que evolui em dias, é preciso fazer uma imersão profunda. Deve-se discutir todas as premissas do negócio, porque no fundo é isso o que manda. Se você não souber como seu negócio dá certo, porque ele dá certo e o que ele pode oferecer no futuro, você será apenas mais um num mundo que, de tantas possibilidades e tão vasto, é difícil de enxergar. Orientar-se nesse novo mundo exige muito mais do que uma boa bússola: exige sabedoria.

Dizia Fernando Pessoa que navegar é preciso, viver não é preciso. Eu completo: no futuro, viver pode até continuar a ser preciso, mas navegar não é mais preciso. Então, aperte os cintos que o piloto é um negócio chamado IA Generativa.